sábado, 19 de fevereiro de 2011


Responsável por levar Paulo Ganso para o Santos, após ter descoberto o talentoso garoto em Belém, o ex-jogador Giovanni se desentende com o craque e a família dele por causa da divisão dos direitos econômicos


Quando aquele tímido garoto de Belém deu seus primeiros toques na bola logo decretaram: "É o Messiazinho!" O apelido se justificava não só porque ele foi levado à Vila Belmiro por Giovanni, ídolo e mártir santista desde o injusto vice brasileiro de 1995. Paulo Henrique era o espelho do craque que havia dado uma pausa no sofrimento santista na década de 90. Esguio e inteligente, jogava de cabeça erguida - algo raro.

Não à toa, o Messias se orgulhava. Hoje, o ex-jogador Giovanni, dono de uma escola de educação infantil em sua cidade e preparando uma clínica de fisioterapia, não se empolga quando fala de Paulo Henrique, que agora virou Ganso. Ele está magoado com o garoto e sua família, em quem diz ter perdido a confiança. Tudo por causa de uma divergência na divisão dos direitos econômicos do atleta.

O Messias diz ter assinado um contrato com a família, pelo qual teria direito a 7,5% do valor total de uma eventual venda de Ganso. No entanto, os pais do jogador alegam que esse percentual incide apenas sobre a parte do jogador, que hoje é de 10% (45% são do Santos e 45% da DIS). Nesta entrevista ao DIÁRIO, Giovanni revela sua insatisfação e anuncia o fim da amizade com o "Messiazinho".

DIÁRIO_ Qual acordo você fez com a família do Ganso?
GIOVANNI_ A gente tinha combinado que, dos 30% que o Ganso era dono (os outros 70% eram do Santos quando ele chegou, em 2005), a família cederia 15%, sendo 7,5% pra mim e 7,5 para o Edinho. Eu nem queria fazer contrato porque éramos amigos aqui em Belém. Eu disse que não precisava porque existia a confiança. Mas nós fizemos porque os pais dele exigiram o documento.

E o que houve depois?
Aconteceu uma coisa entre os pais do Ganso e o Edinho (o jogador viajou a Belém sem avisar sua familia, só o agente). O Edinho se acertou e saiu da sociedade (por R$ 15 mil). Eu continuei com os meus 7,5%. Só que eles vieram em casa (em dezembro) e me disseram que esse percentual é sobre os 10% que eles têm na divisão com o Santos e o DIS. O que era 7,5% do total virou 0,75%. Isso é migalha. Não vou aceitar essa porcentagem.

Você vai brigar na Justiça?
Não, jamais vou entrar na Justiça por dinheiro. Deus é testemunha do nosso acordo. Eu achava que a gente tinha amizade, mas agora vejo que não era isso. Eu me enganei.

Então, você vai abrir mão do que tem a receber?
Isso. Se não me derem o que foi acordado, não quero nada.

Você levou o Ganso para o Santos. Como aconteceu?
Os pais deles costumavam vir em casa. Em 2005, quando voltei para o Santos, a gente já era amigo. Eu o indiquei e ele foi aproveitado na base. Quando foi para o profissional, as coisas mudaram. Eu fiquei triste porque você tem de manter a humildade e a palavra. Mas isso não é coisa do Ganso. É um rapaz humilde. Isso é coisa das pessoas que cuidam dele.

Você acha que é do DIS?
Com certeza. O que ele fala nas entrevistas não é coisa dele (Ganso cobrou recentemente um aumento salarial, mesmo estando machucado). Ele está forçando uma situação que não é dele. Ele pode se queimar com o torcedor.

Mas você acha que um jogador com tanta personalidade é inocente a ponto de se deixar influenciar por terceiros?
Não, ele é responsável por isso também. É a carreira dele. Os pais têm um papel importante de orientar, mas ele é muito responsável e tem culpa.

Em sua terceira passagem pelo Santos, em 2010, a crise entre vocês já existia. Como foi lidar com isso estando ao lado dele, no grupo de jogadores?
Havia um constrangimento muito grande dele. Ele sabia que foi tratada uma coisa e ela não foi cumprida. Não tenho nada contra ele, até torço para que tenha sucesso, mas, infelizmente, nossa amizade foi abalada por dinheiro.

Depois que você saiu do Santos, antes da parada da Copa, não falou mais com ele?
A última vez que falei com ele foi aqui mesmo, em Belém, durante uma pelada de fim de ano, em dezembro. Foi rápido, a gente não tem mais intimidade. Perguntei quando ele voltaria a jogar e só. Antes, ele vinha aqui em casa, a gente corria junto para manter a forma. Isso não acontece mais porque ele está em outra roda de amizade.

E o que vai acontecer agora?
Isso só Deus sabe. Acho que eles não vão me pagar o que é justo. Por isso, nem quero mais mexer com jogador.

Você não está trabalhando como olheiro do Santos?
Ah, eu mandei uns DVDs para o clube e nunca me responderam. Mandei para o Jamelli (ex-gerente de futebol). Aqui em Belém tem muito jogador bom. Mas não quero mais mexer com isso justamente por essa experiência que eu tive. Para não ter dor de cabeça, prefiro investir meu dinheiro em algo mais confiável.

Cronologia

2005
A mãe de Ganso envia um DVD para o Santos. Sem sucesso, ela pede ajuda a Giovanni, que defendia o Peixe pela segunda vez. Um amigo da família faz o contato e, no segundo semestre, o Messias leva o garoto às categorias de base do Alvinegro. O Santos era dono de 70% dos direitos econômicos, enquanto 30% pertenciam ao jogador.

2007
Depois de encarar um período difícil de adaptação, o meia rompe os ligamentos cruzados do joelho direito. Edinho, procurador de Giovanni, promete dar assistência ao garoto, levando-o para o tratamento diariamente. Na mesma temporada, Ganso volta a jogar e termina o ano como campeão paulista sub-20.

2008
Em janeiro, o jogador assina sua renovação já para subir ao profissional. Na ocasião, também foram divididos os direitos econômicos. O Peixe continua com 70%, mas a família de Ganso divide seus 30% em três partes: ficou com 15% e deu 7,5% para Giovanni e mais 7,5% para Edinho. O acordo foi assinado e registrado em cartório.

2009
A família de Ganso procura Giovanni e informa que não quer mais Edinho à frente da carreira do filho. Dá R$ 15 mil e o agente sai de cena para a entrada do DIS. O Santos vende 25% dos direitos para a empresa do Grupo Sonda, que também compra 20% dos 30% que eram do meia. A divisão fica: 45%, 45% e 10%. Dos 10% de Ganso, 7,5% ficariam com Giovanni.

2010
A nova diretoria santista não concorda com a venda dos direitos econômicos à DIS e entra na Justiça para reaver os 25%. No fim do ano, a família de Ganso vai à casa de Giovanni e lhe informa que os 7,5% a que teria direito não são em cima do valor total de uma eventual venda do meia e sim sobre os 10% que o jogador detém.

2011
Giovanni confirma a divergência ao DIÁRIO e Edinho reconhece que houve falha na confecção do contrato entre as partes. O documento não deixa claro que a porcentagem de Giovanni é referente ao valor total arrecadado em uma eventual venda.

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